COTIDIANO – Há tempos não sou ridículo!

apolodafne[1]

Há tempos não sou ridículo!

Escolhi você para ser minha destinatária. Talvez seja essa luminescência de seu sorriso que me deixa bobo. É desses raros capazes de derreter meu coração (Juro que sou capaz de o sentir se liquidificando e se espalhando por dentro de mim).

Esse sorriso que aquece meu sangue, como pétalas de fogo ao vento, e faz com que minha mente dance notas musicais em acordes perfeitos, que nem Chopin¹ conseguiria transmitir em suas virtuosas composições.

Não há como não ser bobo assim. Fato. A carta de amor ridícula é consequência inexorável de meses de impulsos sofrenados em dizer que sou completamente apaixonado por você. Ah… esquece! Não sou ridículo! Pessoa² que estava certo: “afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”.

Ridículo é não dizer para você o quanto você é maravilhosa. Ridículo é não olhar para você. Não perceber você como a mais divina consequência do caos cósmico.

Você bem sabe que costumo dizer para as pessoas a mim especiais como cada encontro é um milagre. Já havia transcorrido 99,998% da história do universo até surgir nossa espécie… Aqui, na Terra, no meio de mais de 100 bilhões de galáxias e 10 bilhões de trilhões de estrelas, após mais de 100 bilhões de pessoas terem passado por aqui, em meio a mais de 7 bilhões existentes hoje, do outro lado do atlântico… encontrei você. E. Me. Apaixonei. Perdidamente. Arrebatador!

Bauman³ estava certo… “não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. E não se pode aprender a arte ilusória – inexistente, embora ardentemente desejada – de evitar suas garras e ficar fora de seu caminho. Chegado o momento, o amor e a morte atacarão – mas não se tem a mínima idéia de quando isso acontecerá. Quando acontecer, vai pegar você desprevenido”.

É… não se pode evitar. Controle é uma palavra que vai deixando de existir no vocabulário da autocracia da paixão. A novilíngua do desejo.

Mas sou injusto em atribuir somente ao seu sorriso o meu estado de graça (esse em que Clarice° muito bem disse que se vê a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Esse em que tudo ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário, que vem do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas).

É o seu cabelo. Que ao se soltar daquele coque que você tem o costume de fazer irradia sabe-se lá o que que simplesmente é capaz de parar o tempo e eternizar o instante em minha mente. Tenho-os todos guardados em minha memória.

São seus olhos! Que olhos!! Ah como sou feliz em compartilhar a cor dos seus olhos! Sou raro junto a ti neste genótipo espalhado pelo mundo!

 

Cada momento junto a ti culmina em um alento desejo de imortalizá-lo. Aprazar este cada instante, para mim sempre implacavelmente efêmero, como uma regra constante na minha realidade. Transformar cada kairós em aíôn.  Assim como o brilho fugaz, mas persistente, de uma estrela cadente que parece surgir no céu para cumprir este papel e lembrar quão especiais são estes momentos.
Cada sorriso, cada olhar, cada palavra, cada toque, cada risada, cada dança, cada abraço. Para sempre. No meu coração. Não teve jeito… Coimbra dos amores fez mais uma vítima. Que meu ardente desejo por ti transborde, como a chuva torrencial faz o Mondego invadir todas as veias da baixa desta cidade…

 

Apolo Daski

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¹ Frédéric Chopin

² Fernando Pessoa

³ Zygmunt Bauman

° Clarice Lispector

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